Todos os meses, a equipe editorial da Qobuz identifica os discos imperdíveis lançados em todos os gêneros. Confira aqui a seleção de abril de 2024.

INDIE & ALTERNATIVO

Os Libertines estão de volta. Composto na Jamaica, All Quiet on the Eastern Esplanade é uma fusão de rock’n’roll sincero e requintado, que intercala baladas sombrias e orquestrações pop elegantes. Enquanto isso, outros ícones do punk inglês, agora em seu quarto álbum, os membros da Fat White Family retornam sem o guitarrista Saul Adamczewski. Liderando sozinho, o vocalista Lias Saoudi direciona a família para uma poesia mais amarga e íntima. O lendário guitarrista do Dire Straits, Mark Knopfler, presta uma nova homenagem a Newcastle, com o nostálgico e relaxante One Deep River. Já os Black Keys colaboram com uma variedade de artistas em seu novo projeto Ohio Players, incluindo Beck, Noel Gallagher, Kelly Finnigan, Leon Michels e Dan The Automator.

Porém, é em Nova York que encontramos o destaque do mês: Only God Was Above Us, do Vampire Weekend. Ezra Koenig mescla diversos gêneros, do ambiente ao pop, passando pelo jazz, com maestria em torno dos sintetizadores. Um patchwork não tão óbvio à primeira vista, mas que se revela viciante e grandioso ao longo das audições. Concluímos o mês com a jovem e vibrante St. Vincent. Em All Born Screaming, Annie Clark molda um pop claro/escuro inspirado nas pinturas de Goya ou no mundo pós-Covid, com a colaboração de Dave Grohl, Stella Mozgawa do Warpaint e Cate Le Bon.

JAZZ

Abril começou com um programa emocionante, destacando a magnífica homenagem ao free-jazz cósmico de Sun Ra pela baixista e compositora Meshell Ndegeocello, uma constelação de convidados prestigiosos em The Magic City, e pelo novo álbum People of Earth, do coletivo Black Lives. Este último oferece uma visão cativante do extraordinário ecletismo da diáspora afro, com uma variedade de músicos vindos da África, Estados Unidos e Caribe.

Na cena jazzística londrina, Shabaka traz sua contribuição com Perceive Its Beauty Acknowledge Its Grace, abandonando o saxofone em favor da flauta, em um álbum-manifesto de grande poder espiritual. A jovem saxofonista chilena Melissa Aldana segue os passos de Wayne Shorter em Echoes of the Inner Prophet, seu melhor disco até hoje. Bill Frisell leva seu trio a uma viagem através de arranjos cinematográficos em Orchestras, enquanto Brad Mehldau se aventura em um álbum solo dedicado à música de Gabriel Fauré em Après Fauré. Fred Hersch, por sua vez, assina Silent Listening, seu primeiro solo para a ECM e um de seus álbuns mais completos.

Para finalizar, uma compilação extraordinária dos concertos europeus de 1959 de Sonny Rollins em Freedom Weaver: The 1959 European Tour Recordings (Live) e a reedição de um disco ao vivo de Chet Baker, gravado no festival de Foggia, na Itália, em 1985, completam este mês musicalmente diversificado.

MÚSICA CLÁSSICA

Este mês, os apreciadores da ópera foram brindados com uma rica diversidade estética que atravessou o Atlântico: no front da música francesa, o selo Palazzetto Bru Zane nos presenteou, em 12 de abril, com uma notável integral de Déjanire de Camille Saint-Saëns. Do outro lado do oceano, não se pode perder a tão esperada estreia The Hours, de Kevin Puts, uma das figuras proeminentes da nova música norte-americana e vencedor do Pulitzer em 2012. A produção, adaptada do filme de Stephen Daldry lançado em 2002 - cuja trilha sonora de Philip Glass deixou uma marca indelével - foi apresentada no Metropolitan Opera com um elenco estelar: Renée Fleming, Joyce DiDonato e Kelli O’Hara. Um verdadeiro tesouro da corrente neotonalista destinado a se tornar um clássico.

No mundo do piano, o renomado pianista argentino Nelson Goerner retorna com um novo álbum dedicado a Liszt, exibindo uma clareza e pureza absolutamente impressionantes. Além disso, não podemos ignorar a monografia de Chopin do talentoso Yunchan Lim, lançada em 19 de abril pela Decca. Já os entusiastas da polifonia renascentista encontrarão em Timor Mortis, um programa desafiador apresentado pelo Ensemble Gilles Binchois, uma oportunidade de apreciar os compositores Charles D’Argentil, Claudin de Sermisy e Jehan Barra. Por fim, uma bela surpresa foi pelo lançada pela Filarmônica de Bruxelas, uma Segunda Sinfonia de Scriabine que promete deixar o público sem fôlego.

ROCK & METAL

O mês de abril foi marcado por uma avalanche sonora que pegou os ouvidos mais sensíveis de surpresa. O álbum Ekbom do Benighted lançou os amantes do brutal death em um turbilhão de intensidade, onde a banda francesa elevando tudo a um ritmo frenético, uma sonoridade mais densa e uma força avassaladora. Enquanto isso, em um oposto calmo e ponderado, My Dying Bride lançou A Mortal Binding, permitindo que o doom se estendesse tranquilamente entre momentos de melancolia e riffs sólidos que sustentavam a narrativa.

No reino da técnica e da criatividade, os músicos do DVNE continuaram a explorar os recantos complexos de seu universo musical em Voidkind, fundindo elementos de post-metal e rock progressivo com um sucesso notável. Entre os veteranos, o Blue Öyster Cult trouxe à tona Ghost Stories, um disco repleto de pérolas esquecidas, onde revisitaram canções lançadas entre 1976 e 1983.

Enquanto isso, os fãs que não perceberam o tempo passar se deliciaram com a compilação Papercuts (Singles Collection 2000-2023) do Linkin Park, além de enfrentarem muitas especulações sobre uma possível reunião e sobre quem poderia preencher o lugar de Chester Bennington no microfone. Enquanto aguardamos respostas, o Pearl Jam, firme e orgulhoso, lançou Dark Matter, seu novo álbum explosivo.

POP

O segundo álbum do brasileiro Bruno Berle, No Reino Dos Afetos 2, é uma obra bela que oscila entre o funk suave e o encantador folk de cantor e compositor. Leyla McCalla, ex-violoncelista do Carolina Chocolate Drops, habilmente mescla world music, folk, rock e jazz em Sun Without the Heat, uma celebração de sua herança haitiana. We Belong de Sinkane parece representar o ápice de sua evolução: profundamente impactante, funky, divertido e vibrante, transmitindo uma mensagem que nunca é demais compartilhar. Em sua obra-prima, Letters from a Black Widow, Judith Hill demonstra sua compreensão das correlações entre pop, blues, folk e soulful R&B tão habilmente que é fácil ignorar o incrível reservatório lírico do qual ela frequentemente se inspira. E para finalizar o mês com chave de ouro, temos Novela, o novo álbum lindamente retrô da inebriante diva Céu, que apresenta apenas cordas, baixo suave e melodias amorosas.

MÚSICA ELETRÔNICA

Começamos com o lançamento de When all you want to do is be the fire part of fire, o álbum Qobuzissime da dupla francesa UTO, ao lado de artistas como Rone e Deena Abdelwahed. Os mais exigentes não podem perder ISSO10, a última criação do produtor alemão Skee Mask: uma experiência de techno que desafia a mente e sem dúvida um dos destaques do mês. Também altamente aguardado é o álbum da sensação da cena jungle inglesa, Nia Archives, intitulado Silence Is Loud, que mescla breakbeats de rave com canções folk-pop. Continuando no Reino Unido, Will Phillips, conhecido como Tourist, lança seu quinto álbum, Memory Morning, uma harmoniosa síntese das influências da cena indie e eletrônica britânica da última década. E por fim, embora possamos estar em dúvida sobre sua classificação como eletrônica, os Mount Kimbie lançam um novo álbum que se afasta cada vez mais do post-dubstep de seus primórdios para abraçar as guitarras em The Sunset Violent.